style="width: 100%;" data-filename="retriever">Um povo que, analisado sob a ótica de qualquer de suas fases históricas, forjou sua coletividade e noção de civilização embasada na imitação a outras nações, adotando caricatamente costumes e até valores de seus colonizadores, ao preço da submissão e eliminação de suas peculiaridades em exercício explicito da própria depreciação moral e material.
Um povo que, enquanto copiava aquelas outras nações a lhe explorarem, lhe espoliarem, esqueceu de olhar para própria história e, quando obrigado a se deparar com ela, não se envergonha dos séculos de escravidão de seres humanos e, pior, ainda se insurge contra o reconhecimento, mínima gratidão e parcas possibilidades de compensação em razão dos que sob o chicote sofreram e padeceram para construir os alicerces da riqueza de que todos gozam atualmente, direta ou indiretamente.
Um povo, sempre preocupado em externar matizes de civilidade aos de fora, ostentando abundâncias e simulando nobreza de atos, cuidados com os seus, incompatíveis com a real situação interna de miserabilidade e profunda desigualdade social, para simular mérito a uma respeitabilidade que ele próprio não dispensa ao País e a seus compatriotas.
Um povo, que conformado com a impraticável intenção de gozar de iguais considerações de natureza intelectual, social, econômica e tudo o mais que enxerga e até inveja em outros povos, se jacta daquilo que exclusivamente lhe assiste na senda de se ver valorizado pelos de acolá, logo, futebol, carnaval e praias.
Um povo que tolera, convive mansa, pacifica e alegremente com os custos infindáveis da ignorância planejadamente instituída, até incentivada, há eras, sem objetiva preocupação com o histórico desleixo diante seu sistema educacional que, convenhamos, nos papéis das burocracias autárquicas e dos diplomas emparedados só fazem transparecer louros e conhecimentos científicos que não sobrevivem ao mundo real.
Um povo em que as classes desvalidas não têm acesso à instrução, mesmo à mais claudicante. Já a classe média e a alta, apesar do privilégio de frequentarem os bancos escolares e acadêmicos, não leem e não estudam o pouco que lhes é alcançado, preferindo forjarem seus supostos sensos críticos pelo WhatsApp.
Um povo a quem, também por isto, é infrutífero explicar sobre a dimensão dos benefícios quando as coisas são encaradas pelo viés da racionalidade, da coletividade, das normas e, que tal postura, é a única capaz de fazer emergir a ordem, o progresso, a prosperidade e a paz social desejadas. Este mesmo povo, de indivíduos sempre à espera de que o outro, de cima ou de baixo, se reforme para, então, só daí, o próprio principie a sua renovação postural.
Um povo que institucionalizou o "jeitinho", em explicita e despudorada opção pelo atalho que abrevia a travessia das mais brandas às piores circunstâncias, subjugando o trajeto correto e seguro. E que, por pior, parece que ainda não viu isto jamais dar certo.
Eu, o amigo e a amiga que me leem agora, conhecemos bem esse povo e sabemos de quem se trata. Por tal, não me espanta que alguns de vós, de nós, se revoltem com a os furos de fila desde que iniciada a vacinação.
Só me surpreende que alguns ainda se surpreendam...